Agora começamos a brincadeira proposta: dois olhares sobre o cinema.
Para começar bem, Rosencrantz & Guildenstern Estão Mortos (Rosencrantz & Guildenstern Are Dead) filme de Tom Stoppard, de 1990.
Por Alessandra
Tempo, tempo, mano velho, és um dos deuses mais lindos. É sobre o tempo e as artes do tempo que falaremos aqui. O tempo passa, age, constrói, destrói e cria as artes do tempo. O cinema é uma delas, por isso, mais próximo da música do que de sua mãe, a fotografia, como costumávamos acreditar. É justamente sobre o tempo que trata esta obra prima de Tom Stoppard, que parece ter sido esquecida neste tempo.
É possível o resultado de 157 vezes cara em uma moeda atirada ao alto, ou o tempo parou? A probabilidade pode ocorrer sem tempo? Como nos lembrarmos de algo, guardando isto ou aquilo na memória, se estamos deslocados no tempo?
Houve um momento que poderíamos ter dito não e mudado toda a nossa história, ou os papéis que aparecem levados pelo vento (que só ocorre se o tempo passar) são o roteiro de nossa vida, aquilo a que alguns chamam carma ou destino, onde tudo está previamente escrito para ser interpretado?
Estes são alguns dos pensamentos que este filme maravilhoso nos traz e traz também um fantástico jogo de intertextualidade, partindo de Hamlet (Shakespeare), até um teatro de marionetes dentro de uma peça, dentro do filme. Difícil? Piora.
Com belas atuações, enorme destaque para o fabuloso Gary Oldman, no papel de Rosencrantz (ou será Guildenstern?) aprendemos aqui que sim, os clássicos podem ser atuais, mas podem igualmente ser vistos e revistos, interpretados e reinterpretados, basta ousadia.
O resultado? Até a Shakespeare espantaria.
Por Maíra
Para falar do tempo nada melhor do que recorrer aos tempos, múltiplo de duas artes: literatura e cinema. Então é assim, com tom de fabuleta: o cinema, criança prematura e precoce olha pra sua irmã mais velha e toma dela a narrativa, eixo de encaminhamento para as histórias, tomando o tempo também. Claramente cria outros tempos que a literatura não podia ter imaginado sem olhar pela lente do cinema: elipses dentro de elipses dentro de flashback que está dentro de um outro flashback. O cinema brinca com o tempo tomado antes.
E aí entra Rosencrantz e Guildenstern Estão Mortos: o tempo que é todo e quase perdido no conjunto de tempo nenhum grita na nossa frente: o tempo humano é o da memória, da memória que se apaga.
A brincadeira é linda, toma-se um texto dramaturgo (primeiro roubo, que não é roubo por que não subtrai, somente acrescenta), toma-se dois personagens deste texto para si e constrói-se com isso uma outra história, cujo tempo só pode ser medido e percebido pela “intuição” que Hamlet de Shakespeare nos dá: temos a história teatral guardada em alguma gaveta da memória e a história de Rosencrantz e Guildenstern nos obriga a abri-la. São pequenas epifanias de memória, como se disséssemos “Rosencrantz (ou Guildenstern, isso não importa) descobre o empuxo momentos antes do Rei da Dinamarca ver sua história descarnada por atores”.
Mas qual é o tempo desses dois sujeitos? Qual é a história do tempo deles? Eles, provavelmente não têm tempo, podemos acreditar que toda a história humana contada através das descobertas do personagem que responde por qualquer um dos dois nomes, é o tempo suspenso do filme: é um olhar para trás na memória humana que só pode ser feita se ela (a memória humana) não estiver sendo acrescentada. Portanto, tempo nenhum, tempo parado, vazio no espaço onde podemos olhar para trás sem que nada tenha de ser feito agora.
E tudo se resume, se bem me lembro, na pergunta nada retórica (ou totalmente retórica): Qual é a primeira coisa de que você se lembra depois de todo o resto que você esqueceu?
Para começar bem, Rosencrantz & Guildenstern Estão Mortos (Rosencrantz & Guildenstern Are Dead) filme de Tom Stoppard, de 1990.
Por Alessandra
Tempo, tempo, mano velho, és um dos deuses mais lindos. É sobre o tempo e as artes do tempo que falaremos aqui. O tempo passa, age, constrói, destrói e cria as artes do tempo. O cinema é uma delas, por isso, mais próximo da música do que de sua mãe, a fotografia, como costumávamos acreditar. É justamente sobre o tempo que trata esta obra prima de Tom Stoppard, que parece ter sido esquecida neste tempo.
É possível o resultado de 157 vezes cara em uma moeda atirada ao alto, ou o tempo parou? A probabilidade pode ocorrer sem tempo? Como nos lembrarmos de algo, guardando isto ou aquilo na memória, se estamos deslocados no tempo?
Houve um momento que poderíamos ter dito não e mudado toda a nossa história, ou os papéis que aparecem levados pelo vento (que só ocorre se o tempo passar) são o roteiro de nossa vida, aquilo a que alguns chamam carma ou destino, onde tudo está previamente escrito para ser interpretado?
Estes são alguns dos pensamentos que este filme maravilhoso nos traz e traz também um fantástico jogo de intertextualidade, partindo de Hamlet (Shakespeare), até um teatro de marionetes dentro de uma peça, dentro do filme. Difícil? Piora.
Com belas atuações, enorme destaque para o fabuloso Gary Oldman, no papel de Rosencrantz (ou será Guildenstern?) aprendemos aqui que sim, os clássicos podem ser atuais, mas podem igualmente ser vistos e revistos, interpretados e reinterpretados, basta ousadia.
O resultado? Até a Shakespeare espantaria.
Por Maíra
Para falar do tempo nada melhor do que recorrer aos tempos, múltiplo de duas artes: literatura e cinema. Então é assim, com tom de fabuleta: o cinema, criança prematura e precoce olha pra sua irmã mais velha e toma dela a narrativa, eixo de encaminhamento para as histórias, tomando o tempo também. Claramente cria outros tempos que a literatura não podia ter imaginado sem olhar pela lente do cinema: elipses dentro de elipses dentro de flashback que está dentro de um outro flashback. O cinema brinca com o tempo tomado antes.
E aí entra Rosencrantz e Guildenstern Estão Mortos: o tempo que é todo e quase perdido no conjunto de tempo nenhum grita na nossa frente: o tempo humano é o da memória, da memória que se apaga.
A brincadeira é linda, toma-se um texto dramaturgo (primeiro roubo, que não é roubo por que não subtrai, somente acrescenta), toma-se dois personagens deste texto para si e constrói-se com isso uma outra história, cujo tempo só pode ser medido e percebido pela “intuição” que Hamlet de Shakespeare nos dá: temos a história teatral guardada em alguma gaveta da memória e a história de Rosencrantz e Guildenstern nos obriga a abri-la. São pequenas epifanias de memória, como se disséssemos “Rosencrantz (ou Guildenstern, isso não importa) descobre o empuxo momentos antes do Rei da Dinamarca ver sua história descarnada por atores”.
Mas qual é o tempo desses dois sujeitos? Qual é a história do tempo deles? Eles, provavelmente não têm tempo, podemos acreditar que toda a história humana contada através das descobertas do personagem que responde por qualquer um dos dois nomes, é o tempo suspenso do filme: é um olhar para trás na memória humana que só pode ser feita se ela (a memória humana) não estiver sendo acrescentada. Portanto, tempo nenhum, tempo parado, vazio no espaço onde podemos olhar para trás sem que nada tenha de ser feito agora.
E tudo se resume, se bem me lembro, na pergunta nada retórica (ou totalmente retórica): Qual é a primeira coisa de que você se lembra depois de todo o resto que você esqueceu?